sábado, 23 de julho de 2011

Chellmí Na Hu1000dade!


Salve jovens, beleza?
Essa é uma entrevista que o jornal Comarca de Garça-SP, fez quando participei de um encontro na Biblioteca Municipal de Garça-SP, falando um pouco dos meus escritos e minha caminhada junto com meus irmãos do Sarau da Brasa. O link da reportagem está aíhttp://www.jornalcomarca.com.br/?pagina=noticias&id_materia=154017&id_secao=29, mas para ficar mais fácil copiei e colei a entrevista. É só uma partilha meus trutas, longe de qualquer tipo de estrelismo.








09/07/2011Chellmí leva a Literatura à periferia


Foto: Chellmí e participantes do Café & Letras ocorrido na terça-feira



Positivamente surpreendente. É assim que se pode tentar definir a palestra do escritor garcense-paulistano Michell da Silva, o Chellmí, ocorrida na última terça-feira, na Biblioteca Municipal Dr. Rafael Paes de Barros. Mais do que palestra, foi uma conversa sobre a sua vivência, estudos, desafios, descobertas e seus projetos ligados à literatura periférica – daí o “positivamente surpreendente”, pois todos sabemos que ainda há um certo estranhamento quando ouvimos falar em poesia marginal ou trabalhos junto às comunidades das bordas de São Paulo, e Chellmí, através dessas conversas e de seus escritos, desmistifica tal imagem.

Ele faz parte do Coletivo Cultural Poesia Na Brasa, é estudante de Pedagogia na Universidade de São Paulo, é co-fundador da Biblioteca Comunitária Carlos de Assumpção, um dos idealizadores do projeto Carrinhodemãoteca e participou de publicações nos livros Antologia Na Brasa Volumes 1, 2 e 3; Coletivo 8542 e escreveu o prefácio do livro Roube-me, por favor.

A literatura marginal periférica com a qual Chellmí trabalha, segundo ele mesmo é um pouco diversa daquela manifestada nos anos 70, os propósitos são outros, embora ainda haja alguma ligação entre elas. E São Paulo oferece um mercado muito vasto para todo tipo de manifestação cultural, inclusive para a literatura de periferia, muito embora algumas editoras ainda sejam muito criteriosas quanto a isso. Mas elas estão descobrindo que as bordas da capital também têm sua arte. Pirituba, Brasilândia, Cidade Ademar são os embriões dessa arte e o intuito é que ela chegue a todos os cantos.

Chellmí veio a Garça visitar seu pai, Jacinto, e a diretora de Cultura, Susy Mey Truzzi não perdeu a chance de levá-lo ao Projeto Café & Letras, para que o escritor partilhasse um pouco desse universo.

De infância pobre, filho de retirantes de Pernambuco, Michell da Silva, aos 18 anos, assim como tantos jovens, foi em busca de outras perspectivas na capital. Ele conta que sua mudança para a periferia deu-se porque houve uma “higienização do centro de São Paulo”, uma revitalização que deslocou os moradores para os confins da cidade, onde antes havia só matagal. Com muito trabalho, sua família conseguiu uma casa na Vila Brasilândia, na Zona Norte, praticamente uma cidade dentro da cidade, com 250 mil habitantes. Seu contato com os livros era quase nulo, pois as bibliotecas eram muito distantes, o acesso era difícil e o cotidiano da periferia somado ao ritmo de trabalho massacrante não lhe dava tempo.

Nesse ambiente, diz ele, uma criança cresce com a ideia de que sua única saída para uma vida melhor é se tornar jogador de futebol. Caso ela não tenha talento para isso, fatalmente acaba caindo em um caminho torto. Mas hoje ele é uma prova de que esse conceito não tem que ser uma regra. A família sempre terá um papel fundamental na vida de qualquer jovem, para que não haja desvios, e também a cidade oferece infinitas opções para que alguém se aproxime da cultura; há lugares para todos os gostos e todos os bolsos.

Chellmí foi um dos fundadores do Sarau na Brasa, um grupo de amigos que promove um “tráfico” de conhecimentos, levando a poesia até os lugares menos prováveis da periferia, divulgando não somente essa arte, mas a existência de bibliotecas, incentivando os moradores – sobretudo os jovens – à leitura, nunca os forçando, apenas “cutucando” e mostrando que e a Literatura é um caminho que pode mudar a realidade de uma pessoa.

As bibliotecas entraram em sua vida por este caminho: aos 18 anos, quase terminando o colegial, Chellmí conta que ele, assim como vários jovens, tinha problemas para arranjar um emprego formal por conta do alistamento militar. Então, ele viu no curso técnico uma possibilidade para ingressar no mercado de trabalho. Escolheu Biblioteconomia. A partir daí, foi destrinchando o mundo dos livros e começou a partilhar o que aprendia no centro, na Brasilândia.

Ele notou as diferenças entre as bibliotecas públicas e particulares, inclusive as diferenças entre os públicos que as frequentam. Começou a trabalhar em uma biblioteca universitária particular e lá se deparou com alguns espinhos da profissão, como lidar com a demanda dos pedidos, treinar a paciência e saber contornar os poréns da convivência com os alunos (alguns ainda cultivando o velho discurso: “não interessa, eu estou pagando”). Mas mesmo trabalhando nesta biblioteca, Chellmí não deixou de frequentar outras, notando como certos modelos de trabalho eram “engessados”, ele preferiu sair. E com 11 amigos fundou o Sarau na Brasa, para falar de poesia na periferia. O desafio foi levar livros e recitar nos bares, mesmo com a descrença de muita gente. O projeto já tem 3 anos e tem sido muito bem sucedido. Ele conta que escolheu os bares, porque as escolas, mesmo dentro das favelas ou nas periferias ainda não dialogam com esse tipo de atividade, são muito fechadas, então eles encontraram nos botecos a brecha para levar Literatura aos moradores, que vão desde os “pinguços” inveterados até famílias.

Chellmí sentiu que os poemas e o microfone foram vencendo as resistências e até fazendo com que esses mesmos pinguços fossem bebendo menos e participando mais dos saraus, novas amizades surgiram, o projeto caiu no gosto da comunidade e alguns talentos foram descobertos.

Desde os 15 anos escrevendo, ele diz que, independente de sua qualidade literária, tenta romper com a visão de que escritores e poetas são seres iluminados, inatingíveis, uma ideia errada que muita gente ainda cultiva.

Enquanto futuro profissional da Educação, Chellmí sabe o quanto essa área está defasada e sabe também que sozinho ele não vai mudar esse quadro, mas pretende deixar sua semente, sua marca, entrar em contato com a “molecadinha” e incentivar neles a busca pelo conhecimento, “cutuca-los” mostrando que ninguém está predestinado a viver na miséria, basta “furar a bolha” das diferenças e correr atrás do seu espaço.

Essa, segundo ele é uma realidade ainda um pouco longe de ser a ideal, mas há chances de melhorar, e os movimentos literários provam isso; para ele a recompensa de tanto trabalho e doação de si está no olhar interessado de uma criança, ouvindo uma poesia em um boteco. E o rap e o samba, junto com os autores periféricos e seus companheiros da Brasa os guiam nesta longa caminhada.

Para conhecer um pouco mais sobre seu trabalho: http://chellmisp.blogspot.com e http://brasasarau.blogspot.com.