segunda-feira, 22 de abril de 2013

OS OLHOS DO MENINO-HOMEM


Os olhares se distanciaram tudo ficou ofuscado
O menino-homem, o homem-menino estava desamparado
Tentou olhar pro céu, mas, na tua cabeça tinham milhares de bigornas
Procurou as águas quentes, pois eram tão geladas e nunca ficavam mornas
Seus olhos caídos no silêncio profundo gritavam com o mundo
Indicadores apontados disparavam “bem feito vagabundo”
Com os olhos no espelho e o reflexo do mesmo nos olhos, estava iniciado o monólogo
Sugestão de benzedeira, sugestão de bagaceira, sugestão de psicólogo
Os olhos estavam sem vendas, porque nunca foram vendidos
O coração palpitava, mas, as visões percorriam cominhos perdidos
Sensação de vazio, numas de 24 por 48
Escuridão, muito frio, o homem-menino, o menino-homem seguia afoito
Teus olhos não enxergavam que suas canelas acabavam na cintura
O mandavam sorrir e que acabasse logo com aquela longa frescura
Seus cabelos caíam enquanto a fumaça preenchia os pulmões
Já não dormia direito e quando pregava as pálpebras, começavam as alucinações
Sonhos, pesadelos, devaneios, ele não entendia o que era
E os olhos marejavam enquanto na mente se abria cratera
Seus olhares queriam dizer para os ditos sábios que o môio não era o molho
Queriam esbravejar o que os sentimentos carregavam no fundilho do olho
Paciência, desespero, desespero, paciência, extremos próximos e distantes
Ciência, picadeiro, tempero, clemência, embruteceram seus diamantes
Um dia olhou pra relva, mas não conseguiu olhar para grama
Outro dia enxergou a cova no desejo que fosse sua cama
Foi pra de baixo da chuva e deitou-se sobre a lama
Fez tudo isso sozinho para que bico-sujo não interpretasse como melodrama
Chegou ensopado e sujo, abriu o portão e pegou o varal no quintal
Amarrou no pescoço e pendurou no inferno astral
Ficou vermelho, ficou cinza, ficou roxo, e não antecipou seu funeral
Caiu no chão e pensou consigo “nem pra partir eu tenho moral”
Levantou-se, deu 3 passos e no outro cômodo pegou a Ypioca e o Gardenal
Faltou coragem e disposição ao saber que a criançada ia passar mal
Depois de tudo isso seus olhos queimavam como brasa
Refletiu sobre o significado da Brasa na Brasa, deu bica na tristeza e a expulsou da sua casa
Os raios de sol não penetravam mais nas tuas íris
Aí se lembrou de quando sonhava em ser a oitava cor do arco-íris
Num processo árduo seus olhos aos poucos iam voltando a refletir algumas cores
Num processo mais acelerado foram partindo, tremores e rancores
Retornou a chapar com os livros e a se embriagar com a poesia
Arregalou os olhos e começou a observar que sua presença, bem fazia
O Gardenal dispensado no bueiro nunca mais esteve entre seus dedos
Os ratos fazendo festa no telhado já não aguçam mais seus medos
Seus olhos encantaram os olhos de alguém
Os olhos de alguém encantaram seus olhos também
Aqueles olhos baixos passaram a ser olhos atentos
Embora sejam olhos que memorizam constantemente os momentos de sofrimentos

Sem precisar de lentes de contato para ver que o mundo nunca será uma piscina com Confort, que seja suave, cor-de-rosa e só contente
Espero que quando suas bolinhas brilhantes decidirem se esconder, seus olhares de transparência eternizem nas memórias que cada minuto neste terreno o Menino-Homem foi muito mais que presente.

Chellmí - Jovem Escritor Paulista - 19.04.2013

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