Traquina na sua infância adorava correr e trepar nas árvores do quintal de sua avó. Menino curioso, observador, sempre que possível soltava inúmeras perguntas a quem estivesse próximo a ele.
- Por que este galho é retorcido?
- Por que meu pé é cascudo?
- Por que não gosto de calçar sandália?
Geralmente quem o ouvia não aguentava tantas perguntas e logo perdiam a paciência.
- Tá, tá bom, não aguento mais suas perguntas.
- Tá, tá, tá.
Depois de certo tempo começou a se acostumar com o tal do tá.
O personagem que mais gostava no programa do Chaves, sabem qual era? Imaginem!
Lógico que era o professor Girafales, o garoto ficava admirado quando o Chaves chamava o professor de mestre linguiça. Ficava aguardando ansioso o mestre gritar "Tá, tá, tá, tá!"
E assim Traquina foi crescendo ao som dos tás, tanto é, que passava horas e horas na sua pré-adolescência infincando pregos em madeiras que de tantos furos lembravam queijos suíços.
Só que na flor de sua adolescência o colocaram o apelido de Tátá, todas meninas caçoavam dele e ninguém mais o deixava falar, era ligeiramente cortado pelo som do tá. Nem seus professores o deixava mais se expressar.
Um dia Traquina depois de chorar muito quebrou a TV bem no momento em que Girafales apareceu.
Saiu em disparada para casa de um conhecido que tinha uma arma escondida e a pediu emprestada.
Com muito custo e sem saber bem o que estava acontecendo o rapaz resolveu emprestar o canhão.
Traquina foi até o campinho próximo à sua casa e disparou várias vezes para o alto, Tá,tá,tá,tá... e refletiu.
- Funciona mesmo !
- Agora basta de tá, minha ingenuidade acabou. Acabou porque acabou para mim, é o fim da linha.
Traquina abriu a boca, mirou o canhão na mesma e apertou o gatilho, e de longe a vizinhança escutou o último tá de Traquina.
Na manhã seguinte um jornalista racista publicou uma matéria com o título: Tá, tá, tá, taí o que você queria, mais um preto morto governador. E o jornaleiro prossegue...
- Pena do Tátá mas, agora voltaremos a clarear as ideias.
Depois de ler esta matéria, com este título, os amigos que não escutavam Traquina passaram a pegar em armas e nunca mais pararam de atirar.
E desde então o TÁ,TÁ,TÁ,TÁ... se eternizou naquela quebrada.
Chellmí - Jovem Escritor Paulista
27.06.2013
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