A ponderação, a insensatez e a
insanidade: A invenção da paz no solo sofrido
A
sensação de ser invisível num mundo que pede e cobra visibilidade é um
contraste que não é exclusividade do tempo em que vivemos, mas um contraste que
perfura e perfurou àqueles que pensaram e os que pensam na visibilidade como
meio de prosperidade fora de um único universo, o seu.
Os estreitos caminhos e as sutilezas
em que a exposição e a omissão percorrem não são de fácil acesso para quem não
se preocupa com tais questões. As pessoas escolhem, selecionam onde e quando
desejam se expor e desejam se omitir. Há pessoas que se camuflam em cascas de
ponderação mediante a grupos, coletivos, relações afetivas, vínculos profissionais
e outros espaços de convivência para serem aceitas e vistas como pessoas
equilibradas e de pensamentos certeiros. Adotar a postura do ponderado chega a
ser sensato à medida em a visibilidade está ligada ao poder, ou seja, o
poderoso, a poderosa, é aquele e aquela que racionaliza até o porquê de um copo
com cerveja ser ou não degustado no bar mais caro possa o levar a uma embriaguez
mais elegante, sendo que o álcool, no caso a cerveja poderá proporcionar tal
embriaguez em qualquer esquina do mundo. Aí a ponderação entra como flecha
certeira, a vida segue o rumo dos ponderados, pois eles conseguem dominar os de
olhos embaçados, que são muitos, mas felizmente não conseguem dominar os
insensatos e insanos que não suportam ponderações.
As buscas pelas visibilidades são
contraditórias, assim como boa parte das relações estabelecidas entre os seres
humanos. Obviamente que as contradições são necessárias para que os ponderados
e os insensatos não se tornem poderosos de verdades únicas, por mais que ambos
tentem ou almejem certo tipo de poder, a contradição sempre estará lá,
martelando na cuca de quem está disposto não se deitar num exclusivo cantinho,
o seu.
Pensar na cidade em que vive, pensar
no bairro em que reside, pensar no país em que habita, pensar em Arte, pensar
em Educação, pensar em Cultura, pensar em Violência, pensar em Desigualdade
Social, não passa de pensar e não agir se a ponderação tomar conta do que é
vivo e do que pulsa.
O que é vivo? O que pulsa?
O que é vivo ou fugaz para ponderado
não passa de nó em pingo d´água na cabeça do insensato e vice-versa. O que pulsa
no corpo e no pensar insano não passa de asneira para o ponderado.
Entre a ponderação e a insanidade e
entre a visibilidade e a invisibilidade poderia planar uma atitude que além de
solidária seria fundamental não para a conquista de consensos, mas para que as
contradições fossem vivas e pulsantes para ambos, aqui com muita cautela
nomeamos tal atitude como Respeito.
A agressividade disparada pelo que é
diferente, pelo que é oposto, isto é reflexo da competição imposta pelo poder.
O poder é infinito. O chefe não se contenta em querer dominar física e psicologicamente
seus subordinados, ele quer mais, quer ocupar o cargo de seu chefe que também o
arrebenta. E uma vez que, consiga tal cargo, continuará sendo oprimido e
oprimindo os outros, fazendo com que a engrenagem nunca pare, pois quem está na
base da opressão muitas vezes nem se dá conta que também sonha com o poder para
reproduzir a desgraça.
Ser poeta, ser educador, ser namorado,
ser filho, ser irmão, ser oprimido nesta guerra requer minimante olhos e
ouvidos que flutuem em mares imaginários. Uns procuram teorias, outros procuram
status, uns procuram felicidade e outros nada procuram. Descrever sentimentos
jamais será senti-los, descrever opressões jamais será senti-las, descrever
verdades jamais serão verdades.
Quem se preocupa inflama e sofre. Quem
pensa no outro mergulha e sofre. O ponderado sofre. O insensato sofre. O insano
sofre.
Com tanto sofrimento eu não acredito
na paz, na moral, eu até detesto a paz. A paz é algo que disseram que é branco,
vendem imagens de pombas e anjos para iludir a mente dos que estão com a vista
embaçada.
Visível ou invisível, ponderado,
insensato ou insano, os poderes tornam as relações inúteis. Se o sofrimento é
certo, que ao menos nos olhemos e consigamos tentar amenizá-lo não com a paz que
vendem, mas com os olhos, ouvidos e pensamentos que nós ainda queremos
partilhar com os próximos. Sofrer junto é condição indispensável para sorrir
junto.
Deixo a seu critério se estas
reflexões são ponderadas, insensatas ou insanas.